Tem gente que diz que o grafite começou no Paleolítico com as pinturas rupestres; outros afirmam que essa prática começou efetivamente no Império Romano, onde eram feitas inscrições nas paredes dos edifícios. Mas foi na década de 1970 nos Estados Unidos que realmente começou-se a usar o spray e essa prática passou a ser chamada de grafite, começando a parecer mais com aquilo que conhecemos hoje. O que realmente importa aqui é que essa é uma arte em constante transformação.
No Brasil, a cultura do grafite chegou nos anos 80 e se popularizou bastante na década seguinte, especialmente na região da Grande São Paulo. Naquela época, as referências para a prática do grafite eram escassas e nem todos tinham acesso a elas.
Em uma matéria do Freak Market, alguns grafiteiros relatam como era a realidade do grafite no Brasil nesse período. Um deles contou que nem sabia que os artistas assinavam as pinturas e só descobriu isso após assistir algumas produções audiovisuais gringas:
“Foi depois de ver esses filmes que eu saquei que precisava assinar os grafites, nem sabia disso, a gente pintava e nem assinava nada”, contou Binho.
Recentemente, o Sobre Tinta entrevistou os grafiteiros Noti e Truff; Ambos são paulistanos e grafitam desde a década de 90. Perguntamos a eles sobre as diferenças de informação e na prática do grafite desde quando começaram. Noti – que sempre gostou de desenhar e copiava as HQs do Spawn quando era mais novo – conta que não existiam muitas referências quando ele começou a pintar e escrever nas paredes em 1999; Os grafiteiros se conheciam em alguns eventos, mas em geral era tudo mais isolado. Ele também conta que as revistas nacionais sobre grafite eram raras e em 2004 ainda existiam poucos sites sobre o assunto.
Foi com a popularização da internet mais ou menos a partir de 2005 que as coisas começaram ficar mais fáceis: “Mudou principalmente a relação com os grafiteiros. Depois da internet, todo mundo começou a se conversar, a trocar ideia, a colar junto, a se misturar no rolê...”, contou o grafiteiro.
Foto do Instagram do grafiteiro Noti
Para Truff, as coisas também são diferentes hoje em dia. Ele – que no começo curtia bastante os trabalhos com stencil – diz que o papel da internet também mudou a forma de divulgação dos próprios grafiteiros. Antes as galerias faziam o trabalho de expor as pinturas para que os clientes entrassem em contato com os artistas; atualmente isso já está ultrapassado e não funciona mais. “O grafite é da rua, mano. A propaganda se faz sozinha, saca? A gente não precisa de galeria pra vender. Hoje com a internet, Whatsapp, com essas questões, o comprador entra em direto contato com você”, relatou ele. Por outro lado, alguns grafiteiros com quem conversamos durante a cobertura de um coletivo de grafite em uma escola de São Paulo reclamaram de uma certa “falta de humildade” de alguns novos artistas que surgiram recentemente e aprendem tudo com facilidade pela internet. Eles criticaram também o fato de algumas pessoas pagarem para o Facebook divulgar os trabalhos (publicações) em troca de curtidas, sem valorizar quem veio antes e “ralou” pra desenvolver as técnicas e ganhar reconhecimento ao longo do tempo.
Foto do Instagram do grafiteiro Truff Já Truff não vê problema em quem vai atrás do que quer. Ele se posiciona contra a segregação dizendo que a internet deu oportunidade pra todo mundo. Segundo ele, “Cada um faz o seu corre. Se o cara quer fazer uma faculdade o cara corre atrás, se o cara quer fazer grafite o cara corre atrás, e assim por diante. Então, de certa forma é até um pouco recalque às vezes [...] porque os caras têm uma qualidade de trampo”.
Todas essas situações e opiniões que surgiram no universo do grafite nos últimos tempos – e em muitas outras áreas das artes e da comunicação – são resultado da forte presença da internet e do fácil acesso à informação que as pessoas tem hoje e que marcam uma nova era. Diferente das décadas passadas, agora já existe uma enorme quantidade de sites, revistas, documentários, filmes e outros materiais disponíveis que falam sobre grafite. A arte urbana continua mudando e novas questões sobre ela vão surgindo. Você pode conhecer mais sobre o Noti e o Truff e ouvir outras opiniões a respeito do grafite no nosso documentário “ON THE WALL”. E leia também nossos outros posts: O Grafite Feminino e O Sobre Kobra