Foto por Garry Knight
No universo artístico existem casos em que dois ou mais tipos de arte se unem para formar uma coisa só, como é o caso teatro musical ou do cinema, que une música, fotografia, e outros elementos. Dentre todos, a música talvez seja a mais universal e está presente em diversos contextos, podendo ter funções diferentes dependendo de cada situação. É difícil alguém passar um dia inteiro sem ouvir música, direta ou indiretamente. Além de ser uma das formas de manifestação cultural mais fortes, a música tem muitos estilos diferentes porque depende da individualidade de cada artista, que falam daquilo que vivem e tem suas influências a partir do que admiram e costumam escutar, ou seja, suas referências.
E é aí que o grafite e a música se encontram. Ao contrário dos exemplos citados, essas duas manifestações artísticas não dependem uma da outra para acontecer, mas se unem através de um movimento, o Hip-Hop, protagonizado principalmente por moradores de bairros suburbanos, marginalizados. O movimento, que surgiu nos anos 70 em Nova York, ganhou força no Brasil na década seguinte e veio quebrando preconceitos e conquistando espaço desde então.
O grafite, que no início costumava ilustrar a letra das músicas através de desenhos e tags com spray na parede, foi deixando de ser apenas um elemento do Hip-Hop e ganhando sua própria autonomia. Com o tempo, desenvolveram-se diversos estilos e gêneros e hoje é uma arte prestigiada no mundo inteiro.
Além da música e do grafite, o movimento Hip-Hop inclui alguns outros elementos como a dança (break), os MCs, entre outros. O Rap é o estilo musical de mais destaque no Hip-Hop. Na grande São Paulo surgiram vários artistas desse meio e alguns deles ficaram muito conhecidos. O grupo Racionais MC’s se tornou uma das maiores referências do meio, com uma produção audiovisual bem desenvolvida e uma carreira consagrada:
Grande parte das músicas do Rap tem letras que falam sobre a vida na periferia, o preconceito racial, e trazem reflexões sobre temas como problemas sociais, vida urbana, relações familiares, dificuldades do dia a dia. O grafite também costuma discutir assuntos similares, fazendo críticas sociais e ilustrando a vivência e experiência pessoal de cada autor. Alguns dos artistas que fazem rap também estão envolvidos com o grafite ou vice-versa. Mas é claro que não podemos generalizar e definir todo mundo da mesma maneira, cada artista tem sua liberdade e se expressa como preferir. Tanto no grafite como na música existem mensagens positivas, encorajadoras, algumas mais violentas, provocativas, entre tantos outros assuntos e estilos.
Aqui em São Bernardo do Campo (SP) nós temos a famosa “Batalha da Matriz”, que acontece na Praça da Matriz toda terça-feira às 19:30. O encontro conta com diversos rappers que duelam em vários rounds improvisados: um canta primeiro e o outro tem o direito de resposta. O talento dos caras fica claro quando vemos que há uma continuidade de uma frase pra outra, formando rimas inteligentes e rápidas, com complementos de acordo com o que está rolando ali na hora.
Assim como no grafite, no Rap existem artistas conhecidos em âmbito nacional, e outros, com popularidade mais local. A arte, porém, não perde nem ganha qualidade por ter mais destaque ou não. A rua continua sempre cheia de talento, seja nos muros, nas praças ou em qualquer outro lugar. O mais importante é que o rap e o grafite deram voz a quem não tinha e facilitaram a ligação do povo com a arte.
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